#7Paradas7minutos: A lona queimada

Fonte: Zero Hora


Com uma mochila nas costas, camisa; calça e sapato social um pouco empoeirados, parecia que vinha do trabalho, não tinha certeza. Debruçou - se no balcão e me perguntou o valor da lona, não posso lhe informar, não sou vendedora, indiquei alguém para atendê-lo, me arrependi.

Sentou na mesa da vendedora, ela fez careta, depois soube o motivo, o odor dele não estava agradável. Ao invés de dar atenção para ele, ela atendeu o telefone, desligou e levantou deixando - o  a ver navios, como se ele não estivesse ali. Perguntei pra ela onde ia, disse que ia ver produto, avisei que ele só queria ver um preço, então ela voltou.

Fui para o banheiro, pois não aguentava ver o desprezo gratuito não merecido, um preconceito ridículo. 

Morador de uma parada da Avenida Aparício Borges, junto com sua esposa e mais algumas pessoas, ele fica no sinal da Oscar Pereira com uma placa que diz: "Estou com fome, me ajuda?". Todos usam lona para se proteger, dormem em cima de papelão e cobrem - se com cobertores doados.

Toda manhã quando desço naquela parada vejo tudo queimado, fico apavorada, porque quem reside ali, são pessoas iguais a nós, que infelizmente tiveram outros rumos na vida, que não cabe a ninguém julgar. 

Na noite do dia 06/10, enquanto sua esposa dormia, jogaram uma bituca de cigarro na lona que os protegia e por má sorte além de queimar quase tudo mais uma vez, queimou a mão dela.

Em nenhum momento ele nos ofendeu, chegou com bom humor, brincou comigo, ri junto, na saída me contou o acontecido, reclamou do valor da lona, lamentamos, indiquei outros lugares para continuar a pesquisa. Me senti impotente, pratiquei empatia, queria poder ajudar, mas naquele momento não podia.

Comentários

  1. Nossa, a vida das pessoas que moram nas ruas é muito triste. Aqui em Campinas existem grupos que levam comida, oração e itens de higiene para moradores de rua. É uma maneira de dar um pouco de amor diante desse turbilhão de coisas desagradáveis que ocorrem com essas pessoas.
    Adorei o seu post, Nati :)
    Beijo,

    Hida

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É muito triste mesmo, quem puder ajudar fará o dia de algum morador muito feliz.
      Obrigada
      Beijo

      Excluir
  2. Linda HISTÓRIA DE VERDADE! Vale a pena ser compartilhada!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Primeiro dia do mês - Uma nova trajetória

Conheça a Custom Necklace

Livre, liberta, liberdade